terça-feira, fevereiro 21, 2006

Liberdade de expressão/religião

É sabido que "a liberdade de uns acaba quando começa a de outros". Também sabemos que, tal como lidamos de forma diferente com diferentes pessoas, dada as suas suceptibilidades próprias, devemos ter um especial cuidado no tratamento de figuras ou modelos das sociedades (menos ou mais) orientais, as quais, num patamar civilizacional diferente, são bastamte mais arreigadas às suas tradições e costumes do que as sociedades ditas ocidentais.
A democratização destas nações é árdua e o caminho é sinuoso. Tanto mais que a democracia, por aqueles lados, tem sido imposta, o que, à partida, lhe retira grandes possibilidades de sucesso. Não é por "a democracia ser o pior dos regimes, à expecção de todos os outros", que irá ser aceite por aqueles que, especialmente em matéria religiosa, ainda vivem no tempo da Inquisição. E atenção que a "Santa" Inquisição não vem aqui ao acaso mas sim para nos relembrar que também nós já passámos por fases horrendas em que o fanatismo e a pertença a uma religião diferente da católica era sinónimo de morte na fogueira, conquanto o/a pobre coitado/a não acedesse a, num acto de contricção, mudar de fé.
Por outro lado, nós habituámo-nos, na nossa sociedade, a ter um maior poder de encaixe. Em abono da verdade se diga que nas sociedades ocidentais o culto pela liberdade de expressão foi tão desenvolvido que, basicamente, se goza com tudo e por tudo ou nada. Esta é uma conquista que só muito dificilmente será conseguida por aqueles que, ligando a religião ao Estado, e por conseguinte toda a sociedade civil, a começar no seu Direito, "condicionam" o rumo deste, no fundo, à sua... interpretação de textos religiosos.
Não sei, sinceramente, qual a fonte da "proibição" de desenhar o Profeta, sendo certo que poderia compreender que não estaria em causa uma "proibição" desse desenho mas apenas e só o mau-estar criado pela caricatura, desenho de escárnio por si só, de tal figura proeminente da religião islâmica. A ser assim, e só assim, compreendo a celeuma causada, daí que, de certa forma, faça sentido um pedido de desculpas, não necessariamente como reconhecimento de um erro mas apenas como forma de apaziguar um mal entendido, reforçando que não estava em causa achincalhar Muhammad.
De outra forma... bem, de outra forma julgo que os cartoons abaixo ilustram bem que o fanatismo, sem dúvida, é a pior faceta da religiosidade. E que a esta, necessidade metafísica da generalidade da espécie humana, ainda lhe falta muita maturação para que seja usada em prol do bem e não da intolerância. A questão é: alguém se lembra de alguma religião que não promova os valores da paz, fraternidade e unidade com o Mundo? Então se assim é, porque razão, milhares de anos após a adoração dos "primeiros" deuses, se continua a utilizá-la para violentar, verbal ou fisicamente, quem tem convicções diferentes das nossas? Porque razão todas as religiões são "em favor da paz" mas, ironicamente, quem não faz parte de uma é considerado "infiel" e deve "sofrer as consequências"?
Só mesmo se participou naquele programa da TVI... enjoy.