Sobre a arbitragem e o José Veiga
«Detesto falar de árbitros. Se houvesse forma de medir o quociente de inteligência das pessoas, quaisquer pessoas, apenas durante os minutos, horas ou até dias que pode levar uma conversa sobre arbitragens, aposto que encontraríamos valores abaixo de zero. Ninguém lhes escapa. Do ponto de vista intelectual, são a materialização do ideal comunista: uma sociedade que discute penáltis é, efectivamente, uma sociedade sem classes, onde um doutoramento convence tanto como o diploma da primária. Mas estamos a melhorar.
No dia da nomeação do árbitro para o Benfica-FC Porto, Pinto da Costa reuniu-se com o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga. Desde então, segundo José Veiga, nunca mais os apitos deram descanso ao Benfica. Este raciocínio, já de um nível Su Doku avançado, tem duas conclusões possíveis:
a) Luís Guilherme não era favorável ao FC Porto e passou a ser depois desse encontro;
b) Luís Guilherme sempre favoreceu o FC Porto, mas não fazia ideia de que convinha prejudicar o Benfica até Pinto da Costa lho ter dito de viva voz;
As duas hipóteses fazem sentido e merecem ser debatidas, porque têm graves implicações. A primeira delas sugere uma misteriosa incompetência do FC Porto. Se era possível virar o presidente da Comissão de Arbitragem, porquê só agora? E porquê durante um "encontro secreto", marcado por fax, mesmo debaixo do nariz de Cunha Leal? Por que não na época passada? Porquê contratar sambistas como Léo Lima e Cláudio Pitbull no mercado de Janeiro se havia ali mesmo à mão um reforço capaz de garantir resultados, ainda por cima português e talvez dedutível no IRS?
A segunda hipótese abre a porta a outras ilações igualmente perturbadoras ou mais ainda. Se Luís Guilherme é um agente do FC Porto e precisa que o instruam a dinamitar o Benfica, será seguro deixá-lo atravessar a rua sozinho? E quem lhe aperta os cordões?
Deixo estes enigmas no ar para que o pessoal possa exercitar as celulazinhas cinzentas em casa, como complemento para os exercícios propostos pelo José Veiga, a nossa Jane Fonda da ginástica mental. Prometo que amanhã pensamos mais dez minutos.»
JOSÉ MANUEL RIBEIRO in jornal "O Jogo"
Precisamos de uma "revolução" na arbitragem...
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